Muitos socorristas pelo Brasil se questionam se realmente necessita de um médico ou de SAV no transporte aeromédico, ou seja, utilização da ambulância tipo E conforme portaria 2048 GM ou resolução 1671 do CFM – Leia o texto abaixo – realmente é obrigatória a presença do médico durante o transporte e veja também os tipos de aeronaves utilizadas.

O transporte Aeromédico consiste em um transporte de pacientes por via aérea, em aeronaves de asa rotativa ou asa fixa e possui 2 modalidades:

MODALIDADE RESGATE: Atendimento inicial ao paciente, na cena do evento, visando sua estabilização inicial, preparo e transporte com condições de suporte avançado de vida à uma instituição médica devidamente capacitada para a continuidade do atendimento. Esta atividade é conhecida como EVAM (evacuação aeromédica) ou MMI (missão de misericórdia) e internacionalmente MEDEVAC (medical evacuation).

MODALIDADE INTER-HOSPITALAR: Transporte de pacientes de uma instituição de saúde para outra, sob a responsabilidade do diretor médico da instituição que realiza o transporte, devendo oferecer condições de suporte avançado de vida.

TRANSPORTE DO POLITRAUMATIZADO EM AERONAVES DE ASA ROTATIVA

As macas eram presas no SKID, o que não permitia o início dos cuidados médicos.

Mesmo assim a mortalidade diminui 2,4% e no conflito do Vietnã o índice caiu para 1,7%, diferente dos 5,8% observados na 2ª Guerra.

Em 1969 iniciou o programa de salvamento aeromédico com helicópteros militares e em 1972 transporte civil; no Brasil iniciou em 1988 no Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro e no ano de 2000 as aeronaves mais utilizadas foram os HB350 monoturbinado.

SEGURANÇA NO VÔO

Os acidentes em helicópteros aeromédicos são causados principalmente por falhas do piloto, normalmente quando submetidos a condições adversas em vôos noturnos ou condições climáticas ruins.

INDICAÇÃO DE EMPREGO E VANTAGENS

São considerados como ambulâncias rápidas e podem voar a 270 Km/h; utilizados no atendimento a pacientes com risco de vida, diminuem a mortalidade em 52% em áreas rurais e 21% em áreas urbanas, ou seja, aumenta a chance de sobrevida; possuem a opção de desembarcar a tripulação médica e içar a vítima com macas especiais (SKED ou OFF-SHORE).

DESVANTAGENS

Custo de operação e manutenção elevado; emprego limitado às condições climáticas desfavoráveis; vibrações e ruídos na cabine dificultam o exame clínico da vítima.

SELEÇÃO DO PACIENTE

Glasgow<10; trauma penetrante de pelve, abdome, tórax, pescoço e crânio; fratura de fêmur; amputação; lesões de coluna cervical; grandes queimados; PA sistólica <90mmHg; FR<10; FC>120.

SITUAÇÃO OPERACIONAL

Consideramos o transporte se: Colisão a mais de 32Km/h; quedas>6m; morte de um ocupante do veículo; local de difícil acesso; transporte superior a 20 minutos; tráfego obstruído.

ALTITUDE

Como os helicópteros não dispõem de pressurização de cabine os vôos são limitados e não excedem os 1.000 metros de altitude; impossibilita transporte de mergulhadores com mal descompressivo; cuidados especiais com pacientes portadores de choque, hipotermia, trauma de tórax, insuficiência cardíaca e doença pulmonar; pacientes com pneumotórax devem ter o tórax drenado antes do transporte. Lembrando que o socorrista não acha, tem certeza, e que ele trabalha com os mecanismos de ferimentos ou seja, a força ou o objeto que causou o trauma, torna-se obrigatória a presença do médico e enfermeiro no transporte aeromédico.

HISTÓRIA

Balões iniciam transporte de feridos

Na mitologia grega Ícaro ganha asas e estabelece o sonho do homem em voar. Em 21 de novembro de 1783  Pilatre de Rozier and the Marques d’ Arlandes  após experimento com balão de setembro de 1783 com animas realizado por Montgolfier, fizeram o primeiro vôo na altitude de 3000 pés por 20 minutos e percorrendo distância de 8 km na França. Iniciava importante passo onde a conquista do céu, na liberdade de voar, projetava a humanidade sobrepondo seus limites.Em 24 de setembro de 1852 Henri Giffard acopla motor de 3 HP na velocidade de 27 km/hora do hipódromo de Paris a cidade, iniciando a era dos dirigíveis.  A fisiologia da altitude era desconhecida e logo viriam os sintomas das baixas pressões atmosféricas. A necessidade do transporte militar e feridos foi surgindo, onde na guerra Franco Prussiana em 1855 foi amplamente utilizada a remoção e resgate Aeromédico. Feridos eram transportados de forma rudimentar para Hospitais de campanha, já se observando as vantagens ganhas em tempo e segurança, porém eram transportes realizados com ausência ou limitações de profissionais de saúde, principalmente médicos.

Forças Napoleônicas.Praça de St. Pierre.

Balão utilizado na Guerra Franco-Prussiana ( 1870 - 1871 ): Forças Napoleônicas.Praça de St. Pierre.

Médico Fisiologista e "Pai da Fisiologia da Altitude"

Paul Bert: Médico Fisiologista e "Pai da Fisiologia da Altitude"

O primeiro médico fisiologista dedicado a fisiologia da altitude foi Paul Bert, que através de camâra hipobárica, analisou os efeitos da baixa pressão em humanos e animais sobretudo no sistema Respiratório e Cardiovascular. Bert demonstrou que o homem não estava adaptado ao ambiente aéreo e estava sujeito a hipóxia, hipotermia, mal estar intermitente e efeitos deletérios do oxigeno e nitrogênio. Mas a aviação foi desenvolvendo e dezembro de 1903, Orville e Wilbur Wright, os irmãos Wright, fazem o primeiro vôo controlado de um avião “com motor”, percorrendo 852 pés com o modelo Flyer nos EUA, porém Santos Dumont efetua em outubro de 1906 o primeiro vôo homologado da história no avião 14 BIS de 50 CV, estaria definitivamente inventado o avião. As aeronaves evoluíam, porém os limites da biologia humana impunham estudos, 90% das mortes dos pilotos eram atribuídas a despreparo e consequência da fisiologia do vôo. Surgia a Medicina Aeroespacial objetivando o estudo da fisiologia do vôo, contribuindo nos equipamentos e roupas para pilotos e tripulações. Na I Guerra Mundial iniciava os primeiros modelos de aeronaves para transporte aeromédico. Eram rudimentares, despressurizadas, com sistema de rede de oxigênio suplementar, em monomotores de velocidade média de 150 km/hora e os feridos encontravam-se em compartimentos a frente do piloto. Já no contexto da Guerra Franco-Prussiana, Henri Dunan inconformado com a crueldade da guerra cria a Cruz Vermelha internacional estabelecendo a

Médico e fisiologista Paul Bert (1833 - 1866 ), estudos dos efeitos fisiológicos da baixa pressão atmosférica ( experimento com Câmara Hipobárica )

Médico e fisiologista Paul Bert (1833 - 1866 ), estudos dos efeitos fisiológicos da baixa pressão atmosférica ( experimento com Câmara Hipobárica )

Cruz Vermelha Internacional e equipe de saúde

Conferência de Genebra na Suíça que entre muitas medidas  estabelece que a equipe de saúde em seus capacetes e braceletes, ambulâncias e aeronaves receberiam o símbolo oficial da Cruz em tom avermelhado para identificação do atendimento e transporte de feridos. Após a I Guerra, o sistema de remoção aérea foi desenvolvendo porém com limitações de custos e pessoal treinado. Aeronaves amplas com médicos e enfermeiros, maior conhecimento da fisiologia do vôo e aeroportos homologados, já permitiam o transporte mais adequado e rápido. A II Grande Guerra novamente impulsiona a necessidade de transporte rápido de feridos, alemães e americanos adaptam aeronaves militares de transporte para “ambulâncias aéreas” com macas apropriadas, sistema de aspiração e oxigênio, equipamentos de ventilação não invasiva com máscaras, medicações e com presença dos profissionais de saúde para atendimento. O transporte aéreo organizado para Hospitais militares de retaguarda permitia ampliar a remoção de vários pacientes ao mesmo tempo em aviões amplos como o americano DC – Douglas.

França, 1917. Transporte Aéreo rudimentar na I Guerra Mundial.

França, 1917. Transporte Aéreo rudimentar na I Guerra Mundial.


Junker JU.52/3M ambulância. Sistema do Serviço de Saúde Alemã, Remoção aérea na II Grande Guerra.

Junker JU.52/3M ambulância. Sistema do Serviço de Saúde Alemã, Remoção aérea na II Grande Guerra.

O Helicóptero

Em 1907 Loius Breget elebora a teoria da asa rotativa, entre vários experimentos somente em 1935 finaliza o protótipo com rotor duplo, porém a concepção atual dada ao helicóptero com rotor central e de cauda foi elaborada em 1939 através Igor Sikorsky, o modelo VS 300 voou 1 hora, 32 minutos e 26 segundos. O helicóptero, do grego Helix ( helicóide) e Pteron (asa) , logo estaria inserido como aeronave de transporte aeromédico em virtude da sua configuração versátil, não necessitando de pistas e efetuando pouso vertical. Os primeiros aparelhos equipados para resgate de feridos já surgiram na II Guerra, porém foi na Guerra da Coréia em 1955 que sua utilização foi empregada onde helicópteros de pequeno porte monopilotado apresentavam macas fechadas no esqui protetor. O  transporte era rudimentar, em baixa altitude, sem equipe de vigilância durante o vôo e já demonstrava a necessidade do piloto em conhecer procedimentos básicos de primeiros atendimento. Em 1962 a Guerra do Vietnam inicia, em terreno acidentado, floresta fechada e graves epidemias, tornou o helicóptero a melhor opção para deslocamento militar e de feridos. O mais utilizado foi H1, em geral bipilotado, contava com maca interna, equipe de auxiliar ou enfermeiro e médico para sobretudo efetuar resgate de feridos em missões com pouca segurança e sujeita a artilharia inimiga. A Guerra do Vietnã demonstrou a necessidade de treinamento para equipes de saúde específicas, dando início a era da asa rotativa e UTI aéreas. Já nessa época, o médico e engenheiro aeronauta Forrest Bird inventa o mais importante ventilador pulmonar invasivo pressórico designado BIRD Mark7 para utilização em UTIs militares e aeronaves de resgate.

Louis Breget, modelo de 1907 com assento central e quatro héleces rotativas.

Louis Breget, modelo de 1907 com assento central e quatro héleces rotativas.


1939, Igor Sikorsky em seu primeiro vôo no VS 300, inventor do helicóptero no modelo atual.

1939, Igor Sikorsky em seu primeiro vôo no VS 300, inventor do helicóptero no modelo atual.

Guerra da Coréia ( 1948 - 1953 ) - Inicio do transporte Aeromédico através de asa rotativa

Guerra da Coréia ( 1948 - 1953 ) - Início do transporte Aeromédico através de asa rotativa

Coréia - ( modelo com maca lateral - para fora ).

Coréia - ( modelo com maca lateral - para fora ).

Vietnã ( 1964 - 1975 ). O Transporte em helicópteros foi amplamente utilizado, surgem as primeiras ambulâncias aéreas equipadas nos padrões atuais.

Vietnã ( 1964 - 1975 ). O Transporte em helicópteros foi amplamente utilizado, surgem as primeiras ambulâncias aéreas equipadas nos padrões atuais.

Equipe multiprofissional, equipamentos compondo UTI aérea. Segurança e Rapidez.

Remoção Atual em Helicópetro: Equipe multiprofissional, equipamentos compondo UTI aérea. Segurança e Rapidez.

Apogeu da Remoção Aérea

Na década de 80 inicia o apogeu do transporte aeromédico. Aeronaves rápidas como jatos, dentro os quais Learjet, tornaram-se verdadeiras UTIs Aéreas, com ventiladores pulmonares específicos, desfibriladores, Bombas de Infusão apropriadas, medicações, monitores cardíacos e principalmente equipe aeromédica treinada. Velocidades de 27 km/hora alcançam 900 km/hora, em cabines pressurizadas, ambiente confortável para paciente e equipe, com normas internacionais rígidas, proporcionando rapidez e segurança. Como em toda tecnologia, uma invenção não exclui a outra, portanto três aeronaves podem ser utilizadas conforme a distância a ser percorrida e condições locais: Helicóptero 200 a 250 km/hora (Esquilo – 1,5 milhões de reais), Turbo-hélice 350 a 400 km/hora ( King Air – 2,5 milhões de Reais) e jato ( Learjet – 8 milhões de reais ) 600 a 700 km/hora.


King Air

Aeronave turbo-hélice para missões de média distância

Aeronave turbo-hélice para missões de média distância

Ficha Técnica
1. Autonomia de vôo: 5 horas
2. Capacidade: 1 médico, 1 enfermeira, 2 tripulantes
3. Acompanhantes: 1
4. Velocidade de cruzeiro: 385 Km/h


Esquilo AS 350 B2

Helicóptero utilizado em missões de curta distância, em locais sem infra-estrutura aeroportuária.

Helicóptero utilizado em missões de curta distância, em locais sem infra-estrutura aeroportuária.

Ficha Técnica
· Autonomia de vôo: 3:20 horas
· Pax aeromédico: 1 piloto, 1 médico, 1 enfermeira e um paciente deitado na maca
· Velocidade de cruzeiro: 220 Km/h
· Distância percorrida: 660 Km


Learjet
Aeronave a jato utilizada para cobrir longas distâncias.

Aeronave a jato utilizada para cobrir longas distâncias.

Aeronave a jato utilizada para cobrir longas distâncias.

Ficha Técnica
· Autonomia de vôo: 3:30 horas
· Pax aeromédico: 1 piloto, 1 co-piloto, 1 médico, 1 enfermeira e 1 acompanhante
· Velocidade de cruzeiro 600 Km/h
· Distância percorrida: 2.500 Km

Definição e Classificação das ambulâncias

Ambulância: veículo (terrestre, aéreo ou hidroviário) que se destine exclusivamente ao transporte de enfermos.

Tipo A – ambulância de transporte: veículo destinado ao transporte em decúbito horizontal de pacientes que não apresentem risco de vida, para remoções simples e de caráter eletivo

Tipo B – ambulância de suporte básico: veículo destinado ao transporte inter-hospitalr de pacientes

Tipo C – ambulância de resgate: veículo de atendimento de emergências pré-hospitalares de pacientes vítimas de acidentes ou pacientes em locais de difícil acesso, com equipamentos de salvamento (terrestre, aquático e em alturas)

Tipo D – ambulância de suporte avançado: veículo destinado ao atendimento e transporte de pacientes de alto risco em emergências pré-hospitalares e/ou de transporte inter-hospitalar que necessitam de cuidados médicos intensivos

Tipo E – ambulância de transporte médico: aeronave de asa fixa ou rotativa utilizada para transporte inter-hospitalar de pacientes e aeronave de asa rotativa para ações de resgate, dotada de equipamentos médicos homologados pelo departamento de aviação civil- dac

Tipo F – nave de transporte médico: veículo motorizado hidroviário destinado ao transporte de pacientes por via marítima ou fluvial. Deve possuir os equipamentos médicos necessários ao atendimento dos mesmos conforme sua gravidade.
Veículos de intervenção rápida: também chamados de veículos leves, rápidos ou de ligação médica são utilizados para transporte de médicos com equipamentos que possibilitam oferecer suporte avançado de vida nas ambulâncias do tipo a, b, c e f.

Outros veículos: veículos habituais adaptados para o transporte de pacientes de baixo risco, sentados que não se caracterizam como veículo tipo lotação.

Texto original encontrado no site: www.sargentofigueiredo.com.br

Bombeiro. Ajudar o próximo. Mais do que gente que apaga fogos, sempre associei os bombeiros àqueles que vestem a farda e vão socorrer a população. Seja num acidente de viação, num enfarte, ou apenas para tirar um gato do telhado. Não cheguei a deitar água em nenhum incêndio, mas levei pessoas ao hospital e senti o pulso da vida no quartel. Confirmei que é tão importante ser rápido e eficaz como solidário e generoso

“Tens carta? Então conduz!”, atira Jorge, o meu colega por um dia, apanhando-me desprevenida. Estou nos corredores da urgência do Hospital de Cascais, e o sr. Rui, deitado na maca, aguarda que alguém o conduza ao serviço de raio X. E rápido, seja eu ou qualquer elemento vestido de azul e encarnado. Chegou a minha vez, deduzo. Está na hora de agir sozinha e não dar apenas assistência. Tento não me atrapalhar, não embater nas macas que encontro pelo caminho e não substituir a atenção ao meu doente pelo nervoso da missão. É um rosto confortante e não um ar de estagiária que procura este senhor com mais de 80 anos, indiferente ao condutor, e queixando-se das dores na barriga que a queda do dia anterior lhe provocou.

A manobra de transferência do sr. Rui da maca para a estrutura do raio X não corre tão bem como eu desejava. Faltam-me as forças para segurar na maca de madeira e tem de ser um auxiliar do serviço a completar a acção. Sem stress, percebo pelo olhar do meu colega. De regresso à urgência, vou ajudando o sr. Rui a responder às perguntas e solicitações do médico. Levantar a perna, explicar onde dói, como caiu, chamar a acompanhante.

Não estou sozinha, mas agarro a oportunidade o melhor que sei, enquanto o João e o Jorge, os dois bombeiros que acompanhei no serviço, dão seguimento aos procedimentos burocráticos. O sr. Rui está com dores, depreendo pela sua cara de sofrimento, e deve ter uma costela partida. “Aos 80 e tal já dói em todo o lado”, brinca o médico, pegando nos exames e levando-os para o gabinete para os observar. Mas está, principalmente, assustado.

Tento confortá-lo, augurando-lhe perspectivas de um regresso rápido a casa e ajudando-o a ultrapassar a ansiedade da espera. Os meus colegas preenchem os verbetes que provam o serviço feito e que lhes permitirão que este seja pago pelo INEM. Enquanto ajusto o cobertor que o Jorge foi buscar para colocar debaixo da sua cabeça, tento passar despercebida aos olhos de um médico meu conhecido que passa trás de mim. Ao contrário dos elementos da minha equipa, que se desdobram em cumprimentos ao pessoal auxiliar e médico, eu limito-me a sorrir e esforço-me ao máximo para que não dêem pela minha presença.

Recuperada a maca da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Cascais, a corporação em que me “infiltrei”, podemos regressar ao quartel. Mais tarde, os companheiros de equipa explicam-me que a prestação dos bombeiros no socorro pré-hospitalar termina quando se recupera o material. Ou seja, quando a maca em que se transporta o doente está em condições de ser devolvida à ambulância. Objectivo que pode ser cumprido cinco minutos depois de chegar ao hospital ou que, em casos de falta de macas, pode só acontecer muitas horas depois. Como no fim-de-semana passado, em que a urgência estava completamente cheia e as macas todas ocupadas, conta João Loureiro, comandante da corporação.

Missão técnica mas também humana

Regresso ao quartel e no caminho auto-avalio-me nesta primeira experiência. O meu sonho de criança já foi diluído pelo tempo e os passeios ao quartel dos bombeiros pela mão do meu avó são hoje memórias de um passado distante. Mas confesso que, no fim deste serviço e depois das palavras de incentivo ao alistamento proferidas pelo adjunto de comando, percebo porque era bombeira que dizia querer ser quando fosse grande. Mais do que aplicar primeiros socorros, há um lado humano desta missão que entusiasma e cativa.

São 11.10. Mas o alarme para a primeira ocorrência do dia soou há uma hora atrás , duas horas depois de me ter apresentado ao serviço no quartel. O socorro inicial ao sr. Rui foi relativamente simples. Com muito cuidado e sem pressas, colocámo-lo numa cadeira de rodas para o retirar da cama até à rua e depois deitámo-la na maca da ambulância que o levou até ao hospital. A funcionária do lar onde vive o sr. Rui seguiu connosco na ambulância e foi dando indicações sobre o historial clínico do doente que foram depois transmitidas no hospital.

Antes de sair para a rua, já eu tinha aprendido algumas noções básicas do serviço e ajudado na manutenção do material. Aliás, quando não há ocorrências, é isso mesmo que os profissionais de primeira intervenção vão fazendo. É preciso conferir as condições do equipamento de socorro e de protecção individual, como os cilindros de ar comprimido que, se não tiverem a pressão recomendada, têm de ser ajustados no compressor, sob pena de não fazerem efeito.

É isso que o Bruno está a fazer junto do compressor instalado numa arrecadação no pátio do quartel. O resto da equipa que entrou, como eu, às oito da manhã, fica completa com mais um Bruno e o Marcelo. Estão quase todos de volta do veículo de desencarcera mento, efectuando operações de manutenção. Testa-se a moto serra, confere-se o combustível, limpa-se o que está a precisar de limpeza. Quando não há nada para fazer, conversamos, lemos o jornal. O Marcelo aproveita para socorrer umas vítimas num jogo de computador disponível na sala de convívio.

O adjunto de comando, 54 anos de vida e quase 40 de serviço, vai dissertando sobre as experiências agradáveis e desagradáveis deste ofício. Como o simples resgate de um gato em cima da árvore ou um cão preso na escada de uma piscina, ou a recuperação de um cadáver em avançado estado de composição nas pedras do mar do Guincho. “Há coisas que nos tocam profundamente. Como uma miúda que tomou um frasco de comprimidos e não foi possível salvar”, recorda, emocionado. Outro sinistro duro de socorrer foi a vítima de um acidente de viação, que era cara conhecida e chegou ao hospital praticamente irreconhecível.

À hora do almoço vou ouvindo mais histórias de quem já anda nisto há muitos anos. O comandante João Loureiro recorda os anos trágicos de 2003 e 2005 e as vítimas do combate aos incêndios florestais que, felizmente e apesar de 126 anos de história, sublinha, ainda não fizeram mortos nem feridos nesta casa.

Da parte da tarde há caras novas no quartel. Elementos do turno da tarde que acabaram de chegar, ou gente da terra que aproveita a hora do almoço para cumprimentar os amigos. A agitação é maior e não tarda muito até caírem dois serviços de socorro pré-hospitalar que nos levam de novo aos corredores do Hospital de Cascais. “Saída de uma ambulância INEM”, anuncia no altifalante o operador de telecomunicações. Dois minutos depois, nova chamada em alta voz, desta vez uma ambulância de reserva, também ao serviço do Instituto de Emergência Médica. A gestão dos meios para ocorrer às duas situações provoca alguma tensão e o comandante é obrigado a engrossar a voz na distribuição do trabalho. Rapidamente as duas ambulâncias saem, obrigando a soar a campainha para facilitar a saída do quartel.

Mais um socorro pré-hospitalar

Mariana caiu no chão quando jogava futebol na escola. Tem 15 anos, está imobilizada na maca da urgência pediátrica e denuncia dores no corpo e pouca sensibilidade nos membros inferiores. O cenário suscita preocupação, mas a jovem está bem disposta. Levamo-la ao raio X e de lá trazemos num envelope a confirmação de que, afinal, não é nada de grave. A jovem aproveita para atirar umas piadas à mãe e às restantes pessoas que a rodeiam: nós, a médica e a auxiliar. “A culpa foi da bola. E eu não sou nenhum Cristiano Ronaldo, sou uma jogadora da treta”, diz, em tom de brincadeira e aliviada por substituir a estrutura de madeira em que está deitada por outra mais confortável.

A mãe ri-se e suspira de alívio, enquanto o pai, que não controlou as lágrimas ao ver a filha chegar de ambulância, aguarda lá fora. Aqui a nossa missão está terminada. Mas ao lado, no balcão dos homens, o senhor de 47 anos que se sentiu mal e foi socorrido em casa pela outra equipa, ainda está a ser visto pelo médico. Minutos mais tarde, estamos todos prontos para voltar à base.

Na sala de operações do quartel a situação está complicada. Uma equipa que estava de volta foi encaminhada para outra escola do concelho, desta vez para socorrer uma jovem com falta de ar. O telefone não pára de tocar e operador não tem mãos a medir. O sr. Rui que ajudei a socorrer de manhã teve alta e precisa de retornar ao lar, mas uma confusão com o seu nome acaba por baralhar o serviço e atrasar o transporte, obrigando a vários telefonemas até ficar esclarecido o mal entendido.

Já passa das quatro da tarde, hora do fim do turno, mas ainda tenho esperança de ir para o teatro de operações e ajudar no combate ao incêndio que deflagra na Parede. Mas o problema resolveu-se sem ser necessário chamar reforços de Cascais. Antes assim. O balanço do dia é calmo, dizem-me. Nem sempre é assim. O mais emocionante, acrescentam, é mesmo não saber o que vai acontecer quando se sai de casa.


RITA CARVALHO

Fonte: DN

Dia do Bombeiro

07/03/2008

Dia do Bombeiro

Em 2 de julho de 1856, o Imperador D.Pedro II, assinava o Decreto Imperial nº 1.775, que regulamentava, pela primeira vez no Brasil, o serviço de extinção de incêndio. Nessa época, ao sinal de incêndio, o badalar dos sinos alertava homens, mulheres e crianças que ficavam em fila e, do poço mais próximo, passavam baldes de mão em mão, até chegarem ao local que estivesse em chamas. Para oficializar a importância do bombeiro, por decreto do Presidente da República, desde 1954, todo 2 de julho deve ser dedicado a homenagear esses profissionais. Nada mais justo que uma data em honra dessas pessoas sensíveis às necessidades do próximo e engajados no desejo de servir bem a comunidade.

Algumas situações em que os bombeiros atuam são: resgate em acidentes, colisão de veículos, atropelamentos, casos clínicos urgentes e remoção de cadáveres, entre outros. Também fornecem treinamento a aspirantes a bombeiros em cursos internos, externos e palestras. São essenciais nas praias, como salva-vidas e observadores do mar. Também analisam a segurança de projetos e fazem vistorias de obras. E ainda realizam busca e salvamento em matas e florestas, auxiliam na captura de animais, monitoram e auxiliam na derrubada legal de árvores e muito mais!
Cotidianamente, os bombeiros arriscam suas vidas pela vida do próximo; são, praticamente, “anjos do fogo”.
Salvando vidas.